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Plano Sete: um excelente livro para se entender o clima da Guerra Fria

  • Flávio Raimundo Giarola
  • 8 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

A Guerra Fria foi marcada pela bipolarização do mundo, na qual duas potências hegemônicas estiveram em constante conflito ideológico. As rivalidades entre União Soviética e Estados Unidos tinham na corrida espacial e na corrida armamentista importantes campos de disputa. Neste sentido, a ficção científica não deixou passar despercebido o clima psicológico da época. A corrida espacial, por exemplo, serviu para incentivar a proliferação de livros, filmes e séries que utilizavam o viajante espacial como protagonista.

A corrida armamentista, por outro lado, serviu para a reprodução de futuros apocalípticos, nos quais uma guerra atômica levaria ao fim total da humanidade. Foram vários os filmes e livros que, de maneiras diferentes, trabalharam com a questão do mundo pós-guerra nuclear, como, por exemplo, os filmes O dia seguinte e Herança Nuclear, ambos de 1983. Na literatura, um livro interessante para se entender as expectativas de futuro no período da Guerra Fria é Plano Sete, do ucraniano Mordecai Roshwald, escrito em 1959.

O livro conta a história de X-127, um militar responsável por controlar os botões que deveriam lançar os mísseis nucleares contra o inimigo. O autor não diz em qual dos lados da Guerra Fria se passa a história, talvez como forma de repúdio aos armamentos nucleares de ambos os lados.

X-127 foi designado para servir no Plano 7, uma base subterrânea, que deveria ser imune a qualquer ataque e, ao mesmo tempo, seria responsável pelo lançamento do arsenal sobre o oponente. O ambiente da história é o de uma sociedade à beira do conflito final, vivendo as tensões características de um mundo bipolar. Desta forma, foram construídos mais 6 níveis acima do Plano 7, pensando em preservar a população, ou parte dela, quando a guerra começasse. O Plano 6, assim como o 7, era um abrigo militar, responsável pela parte defensiva, em caso de uma guerra. Os demais planos eram abrigos de civis, sendo que o 5 era designado para indivíduos de relevância política e os outros planos eram reservados para os demais cidadãos, ordenados de acordo com a importância do indivíduo.

O Plano 7, por sua importância, estava desconectado do mundo, vivendo em um mundo à parte que deveria constituir uma civilização abaixo da terra. A unidade tinha uma autossuficiência de recursos de 500 anos, além de possuir profissionais de vários ramos incumbidos de manter o funcionamento da sociedade subterrânea recém-construída.

A primeira metade do livro trata dos dilemas sofridos pelo protagonista diante de sua reclusão forçada nesta base subterrânea. Os escolhidos para o Plano 7 não o fizeram de forma voluntária. Desta forma, era necessária uma adaptação à nova situação, uma vez que a volta ao mundo externo estava impedida e os militares do Plano 7 estavam condenados a viverem no abrigo o resto de suas vidas, havendo guerra ou não.

A segunda metade do livro, por outro lado, é marcada clima de guerra. O tão esperado conflito entre as duas potências acaba chegando e os seus resultados são trágicos:

“Assim a guerra existe à superfície. Começou ontem às 09:12 horas, no que se refere aquilo de que a nossa ação ofensiva estava incumbida, e acabou quando os nossos últimos mísseis explodiram no território inimigo às 12:10 horas.

A guerra total durou duas horas e vinte e oito minutos – a guerra mais curta da história. E a mais devastadora também. Por estas duas razões é muito fácil fazer a sua história: nada de campanhas lentas e complicadas, nada de campos de batalha para recordar – o globo era um único campo de batalha.

Poderia resumir esta guerra, a maior de todas as registradas na história da humanidade, em poucas palavras: ‘ontem, num pequeno período de menos de três horas, a vida foi aniquilada em vastas extensões da terra’. (...)” (pp. 148-149)

A partir daí, o livro relata pouco à pouco a extinção da raça humana. A superfície do planeta foi totalmente destruída. Até mesmo os países neutros foram atingidos. O que restou da humanidade estava disposto em abrigos subterrâneos, que variavam de acordo com os níveis de profundidade.

Porém, nem estes abrigos estavam imunes aos efeitos da radioatividade. Desta forma, X-127 vai acompanhando, pouco a pouco, a morte dos sobreviventes. Os primeiros foram aqueles dispostos nos planos menos profundos, os planos 1 e 2, contaminados pelo ar. Os planos 3, 4 e 5 foram traídos pela contaminação da água. O plano 6 definha de forma misteriosa. Por fim, resta o plano 7. Se ali a radioatividade decorrente das bombas não se apresenta como um risco iminente, a energia nuclear que abastece o abrigo torna-se uma vilã que vai levar à morte os últimos sobreviventes do planeta

Mordecai posiciona-se claramente contrário ao uso da tecnologia que poderia colocar em risco a vida na terra. Desta forma, sua escrita reflete o ambiente do período pós-Segunda Guerra Mundial, no qual o futuro era visto com temor, uma vez que um conflito bélico entre Estados Unidos e União Soviética poderia ter proporções catastróficas. Sobre isto, a citação a seguir é esclarecedora:

“Nós, o nosso antigo inimigo e nós próprios, desejávamos ser senhores do gênero humano. Cada um de nós desejava governar o mundo inteiro, ou salvá-lo (ambas as formas tem agora o mesmo valor). E o resultado: ambos os lados ficaram reduzidos a algumas centenas de homens das cavernas.

Nunca em toda a história humana houve nada tão grotesco. Dois vastos países, as duas maiores potências do mundo, reduzidas em coisas de horas ao estatuto de umas quantas toupeiras, escondidas debaixo da terra e dominadas pelo constante pavor de que a hora seguinte seja a última”. (p. 207)

Assim, a mensagem do livro é a mesma passada por Einstein em sua famosa frase “Não sei com que armas a III Guerra Mundial será lutada. Mas a IV Guerra Mundial será lutada com paus e pedras”.

Bibliografia:

ROSHWALD, Mordecai. Plano Sete. Lisboa: Edição “Livros do Brasil” Lisboa, 1963.

 
 
 

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