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Isaac Asimov e sua indescritível literatura científica

  • Joyce Santos
  • 29 de mar. de 2017
  • 5 min de leitura

A partir da década de 40, após um período de obras pessimistas e distópicas, devido ao contexto histórico, começaram a surgir novos temas com universos jamais explorados antes. Livros e filmes que agora buscavam abordar não apenas mais o social ou a tecnologia, mas sim uma busca mais filosófica sobre como o avanço da tecnologia industrial e bélica estava mudando a sociedade radicalmente. Vários autores tentaram imaginar e criar sociedades que lidavam diariamente com as problemáticas que todo essa avanço poderia causar.


Um dos autores mais brilhantes desse período foi Isaac Asimov, considerado por muitos o pai da ficção científica como conhecemos hoje, pois além de inspirar várias obras de ficção, ele contribuiu para diversos campos ciência. Como por exemplo, termo ‘robótica’ foi cunhado por Asimov, uma vez quando começou a escrever seus contos não havia sequer menção a uma área voltada para construção e estudo de robôs. Em 1941 quando estava escrevendo Eu Robô usou o termo que anos depois foi adotado pela comunidade científica.

Outro fato interessante é que durante a década de 40, as pesquisas científicas revelaram a existência de uma partícula subatômica conhecida como ‘pósitron’ ou ‘antielétron’ no qual após o choque com os elétrons (que ocorre muito rápido) gerava os fótons da radiação gama. Asimov por sua vez usou o termo para sintetizar a rapidez de uma ideia, nomeando todos os cérebros criados para seus robôs como 'cérebros positrônicos'. Além disso, fez uma das maiores contribuições para a ficção científica com os livros Nove Amanhãs, Eu Robô e a trilogia da Fundação.

O mais notável que pode ser observado em suas obras, é que não se pode classificar seus enredos como utópicos ou distópicos, em quase todos o que se vê são possíveis sociedades futuras que, assim como as atuais, tinham seus prós e contras, não de todo ruim de todo bem, era realista, dentro dos limites que a ciência podia suportar.


Sua obra mais famosa foi o livro Eu Rôbo, uma coletânea de nove contos envolvendo a evolução da mente dos rôbos até que os mesmos atinjam a chamada ‘singularidade’, quando algo tem consciência de si mesmo e do seu papel no mundo. Foi neste livro que é apresentado ao leitor as Três Leis da Robôtica, regras inseridas no cérebro positrônico das máquinas que são impossíveis de se quebrar, que são a base para quase todas as obras de ficção científica do autor. São elas:

  • 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.

  • 2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.

  • 3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.

As leis são seguidas de maneira cíclica no qual a primeira tem mais peso que a segunda, que tem mais peso que terceira. No primeiro conto do livro temos o primitivo robô Robbie ainda muito rústico e pouco desenvolvido (sem habilidades como falar, expressar ou executar funções básicas). De acordo com o decorrer do livro, durante os contos vemos a “robopsicóloga” Susan Calvin estudando a evolução do cérebro positrônico através de robôs que aos poucos vão atingindo a singularidade, como no conto O Mentiroso, o primeiro andróide que desenvolveu a habilidade de ler pensamentos,

“– Eis aqui os fatos, em resumo. Produzimos um cérebro positrônico de tipo supostamente comum, mas ele possui a notável qualidade de ser capaz de ler nossos pensamentos, o que significa que está sintonizado para captar nossas ondas mentais. Se descobrirmos como isso aconteceu, conseguiremos o mais importante progresso robótico destas últimas décadas.” (ASIMOV, Isaac. I, Robot pg 111 - 1950).

Já em Nove Amanhãs, Contos do Futuro Próximo, assim como Eu Robô, é uma coletânea de nove contos com possíveis nove sociedades futuras diferentes, que se passam em tempos diferentes com personagens diferentes, cada uma explorando alguma área da ciência, porém todas relacionadas com a robótica. Neste livro há uma exploração das relações sociais como trabalho, família, local do homem no universo, e como essas foram moldadas pelos avanços tecnológicos de suas respectivas épocas.

Em A Última Pergunta, oitavo conto da obra, dois programadores da grande máquina Multivac (um super computador projetado para armazenar informações e através delas resolver os problemas da humanidade), após uma noite de comemoração resolvem apostar se a máquina era capaz de responder se era possível reverter a entropia. Inicialmente, o Multivac responde: Dados insuficientes para uma resposta significativa. Após milênios e milênios de evolução da raça humana, até que a mesma deixe de existir, o único rastro de nossa existência é o super computador, melhorado a cada século que se passava, agora vagava pelo universo, ainda coletando dados, para responder a última pergunta.


“Todas as outras perguntas tinham sido respondidas, e enquanto essa última pergunta não fosse respondida AC não poderia liberar sua consciência. Todos os dados possíveis tinham sido coletados. Não existia mais nada a inserir. [...]. Um intervalo interminável se passou enquanto ele fazia isso. Enfim, AC alcançou a resposta que permitiria reverter a entropia. Agora não havia mais nenhum homem para quem AC pudesse dar a resposta da última pergunta. Não importa. A resposta - por demonstração - também cuidaria disso. Durante outro intervalo interminável, AC pensou na melhor maneira de fazer isso. Cuidadosamente, AC organizou o programa. A consciência de AC abarcou tudo o que uma vez tinha sido o Universo e pairou sobre o que agora era o Caos. Passo a passo, isso devia ser feito. E AC disse: FAÇA-SE A LUZ! E fez-se a Luz…” (ASIMOV, Isaac. Nove Amanhãs pg. 116 - 1959).


As obras de Asimov fazem muito mais que criar um universo fictício para um possível amanhã, elas nos levam à uma profunda reflexão filosófica sobre existencialismo e nosso papel no mundo. No levam a imaginar se deveríamos colocar limites ou até que ponto podemos no sentir "donos" das máquinas que criamos. Através disso podemos perceber como esse autor foi de extrema importância não apenas para o gênero Ficção Científica, pois além de contextualizar suas histórias com a época de avanços científico e tecnológicos que vinham ocorrendo desde a década de 40, assim como H. G Wells fez com suas contribuições sobre o conceito de viagem no tempo, os livros de Asimov impulsionaram estudiosos da época a realizarem pesquisas em campos jamais estudados anteriormente.


Tudo isso mais uma vez prova a importância da literatura na construção social, uma vez que elas não apenas influenciam nas expectativas de futuro do homem, mas também moldam o presente, encorajando a ciência a explorar o desconhecido em busca das realizações que esperamos acontecer um dia.


Obs: Se quiser conhecer mais sobre o universo de Asimov antes de começar a ler indico o podcasts Nerdcast episódio 186, 'Isaac Asimov e seus escravos tchecos'.. O podcast conta com a descrição e um debate sobre as obras do autor juntamente com trechos de seus livros narrados por Guilherme Briggs. É bem bacana ;).


Referências

ASIMOV, Isaac. Nove Amanhãs. 1ª Edição. Belo Horizonte: Editora Vega S.A, 1999.

ASIMOV, Isaac. Eu, Robô. 1ª Edição. São Paulo: Editora Aleph, 2015.

ASIMOV, Isaac. Fundação. 1ª Edição. São Paulo: Editora Aleph, 2015.

ASIMOV, Isaac. Fundação e Império. 1ª Edição. São Paulo: Editora Aleph, 2015.

ASIMOV, Isaac. Segunda Fundação. 1ª Edição. São Paulo: Editora Aleph, 2015.

ASIMOV, Isaac. No mundo da ficção científica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1984.

NerdCast 186 • Isaac Asimov e seus escravos tchecos. Disponível em: <https://jovemnerd.com.br/nerdcast/nerdcast-186-isaac-asimov-e-seus-escravos-tchecos > . Último acesso em 5 de Agosto de 2016.












 
 
 

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