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A Ficção Científica no Pós-Guerra

  • Joyce Santos
  • 31 de mar. de 2017
  • 4 min de leitura

A Segunda Guerra Mundial foi um período de pouca produção literária, não apenas na ficção científica, mas em quase todas as áreas da indústria cultural. Pois em um período tão triste e tenso da história, as poucas expectativas que se tinham para o futuro não era nada otimistas. Isso influenciou na maneira como o Homem enxergaria o futuro daqui para frente. Os futuros distópicos e pós apocalípticos eram cada vez mais comuns em quase todas as representações (literatura e cinema). Descrença, pessimismo e autodestruição eram os sentimentos mais reportados em quase todas as obras.

Cria-se uma preocupação muito grande com temas sociais. Anteriormente, o que ocorria era: toda o enredo da obra era voltado para o protagonista, era sempre uma personagem representativa de sua respectiva época e através dos olhos desta que o leitor/telespectador via o futuro. Agora o que se via era a fuga da realidade fantasiosa que os autores buscavam no início do século (como por exemplo em Viagem a Lua), havia toda preocupação com o realismo e uma eliminação do ‘individual’, criando uma literatura que dá o enfoque para a "sociedade futura" e não para o "homem do futuro".


Dentro da temática, é possível perceber em várias obras que analisamos que os autores tinham o desenvolvimento tecnológico como algo nocivo (devido a quantidade de produção bélica que estava ocorrendo no período). Além disso havia uma grande influência dos regimes fascistas, em grande parte das histórias o cenário era autoritário e ditatorial, fortalecendo a literatura de crítica/reforma social, que valorizava o Homem dentro da sua normalidade. Em vista disso temos livros como Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, Planeta dos Macacos de Pierre Boulle, 1984 de George Orwell e Laranja Mecânica de Anthony Burguess.


Todo esse avanço tecnológico e bélico gerado Segunda Guerra Mundial, faz com que grande parte dos enredos girassem em torno disso. Além disso, com o início da Guerra Fria e a disputa acirrada entre EUA x URSS levando as potências a entrarem em uma corrida armamentista e espacial, novos caminhos são direcionados para a produção literária e cinematográfica, entre a conquista espacial e a prosa especulativa, tudo estimulado pela falta de esperança no presente por conta lançamento da bomba atômica no fim da guerra em 1945 nas cidades japonesas Hiroshima e Nagasaki.


Até mesmo na TV, que havia se popularizado bastante nas décadas de 30/40, era possível observar um constante medo da explosão de uma Terceira Guerra mundial. O comercial Duck and Cover (esconder e cobrir) era transmitido durante a programação infantil em 1952 a fim de conscientizar as crianças sobre como se proteger de um “acidente” nuclear. O lema ‘Duck and Cover’ se espalhou em várias campanhas publicitárias americanas, e na Inglaterra era comum em cada esquina haver um cartaz com os ensinamentos básicos de proteção.


Outro programa famoso foi o documentário The War Game lançado em 1965 que simulava entrevistas e visitas com pessoas que viviam dentro de uma das zonas de risco de eclosão da bomba. Durante a encenação, havia cenas fortes de pessoas feridas, mutiladas, queimadas e várias crianças sofrendo com os efeitos da radiação. Através dessas propagandas em massa pode-se perceber como as autoridades e mídia usavam de seu poder para controlar o emocional da população. Além de refletir muito bem o medo e pessimismo vivos na sociedade desse período.


O que se pode perceber é que grande parte das obras carregavam consigo um encargo de denúncia social e reflexão, algo que já ocorria antes porém não com a mesma profundidade e frequência. O que é um resultado dos movimentos que ocorreram no período social, quando os autores pararam de focar na visão de uma personagem e passaram a entregar uma visão geral da sociedade futura na qual a protagonista estava inserido.


Vários outros enredos também eram baseados nas consequências e desastres que poderiam ocorrer caso acontecesse o lançamento da bomba. Como por exemplo no romance A Hora Final estreado em 1959, uma grande guerra nuclear ocorre em 1964, e causa grandes danos a sociedade, que retorna aos mesmo hábitos dos homens e mulheres do século XIX, devido a radiação que irá matar todos em questão de tempo. Assim o capitão Dwight Towers vive a última história de amor da humanidade com Moira, uma das sobreviventes do holocausto nuclear.


Pouco depois, a bipolarização do mundo estava ficando cada vez mais evidente. Tanto os EUA quanto a URSS buscavam forma de mostrar como seu desenvolvimento bélico e tecnológico estava aumentando cada vez mais. Isso levou a vários fatores que alterariam muito nossa história. Além disso, em meados da década de 60, a Europa estavam começando a se recuperar da Segunda Guerra, o que fez com que os olhos da industria do consumo novamente se voltassem para essa terra.


Com o lançamento do homem a lua, a industria do consumo voltando a todo vapor, e as corridas armamentista/espacial, a ficção científica, como de costume de década em década, volta a tomar outra forma. Mas isso é papo para o próximo post. Até lá ^^.




Referências

HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 1996.

ORWELL, George. 1984. 1ª Edição. São Paulo: Editora Schwarcz S.A. (Grupo Companhia das Letras), 2009.

BOULLE, Pierre. Planeta dos Macacos. 2ª Edição. São Paulo: Editora Aleph, 2015.

BURGESS, Anthony. Laranja Mecânica. 1ª Edição: São Paulo Editora Aleph, 2012.

GODOY, Leo Otero. Introdução á uma história da ficção científica. 1ª Edição. São Paulo: Editora Lua Nova LTDA, 1987.

Duck and Cover. Direção: Anthony Rizzo. Roteiro: Raymond J. Mauerfrem. EUA: Archer, 1952, pb, (9 min.), título original: Duck and Cover.

A Hora Final. Direção: Stanley Kramer. Roteiro: John Paxton. EUA: United Artists, 1959, pb, (134 min.), título original: On The Beach.

The War Game. Direção/Roteiro: Peter Watkins. Reino Unido: BBC. 1965, pb, (48 min.), título original: The War Game.



 
 
 

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